Hoje eu estava voltando do trabalho, ouvindo uma porção de músicas de
um CD antigo. E então me veio uma pontinha de esperança de que mesmo
que estivesse sofrido agora, no fim iria compensar.
Eu quero explicar, mas para vocês entenderem, vamos ter que voltar
aos meus 15 anos. Foi o ano mais sofrido que consigo lembrar de toda a
minha, ainda curta, vida. Você sabe, não há muitas coisas pelas quais
uma “criança” de 15 anos possa sofrer.
Mas, eu lembro de chorar boa parte das noites daquele ano. Lembro de
chorar tão desesperadamente a ponto de desabafar com os meus pais. E eu
nunca tive uma relação muito próxima com nenhum deles.
Ora, eu era uma criança que estudou a vida inteira num
colégio particular, pequeno, de freiras que pregava o catolicismo. E
então fui posta, aos 15 anos, num colégio público com mais de 3.000
alunos só no primeiro ano. Pode parecer a maior frescura do mundo, mas
para uma criança, isso era um choque de realidade.
E fico repetindo a palavra criança, para você entender que a
gente não tinha metade da vivência e informação que as meninas de hoje
tem. E olha que eu nem sou tão velha assim. Sou uma menina do início dos
anos 90. Estou a um passo de completar 24 primaveras. E hoje, apesar de
não sentir mais aquela dor, eu SEI que sofri. Eu SEI que era um choque
de realidade tão grande e que eu levei na cabeça tantas vezes, que eu só
sabia chorar, odiar a minha vida, e chorar mais ainda.
Mas, isso não me matou. Pelo contrário, no ano seguinte, eu sabia
exatamente como lidar com as pessoas, como lidar com o que eu sentia e
com quem eu era. Demorou muito tempo para eu aprender a ficar
confortável na minha pele, sendo quem eu sou. E teve vezes que bastou um
segundo para eu perder todo esse trabalho.
E sabe, aqui estou eu. Acho que esse ano vai entrar para os anos mais
sofridos junto com 2006. E assim, como naquele ano, eu não era infeliz,
porque não me faltava amor, amizades, casa, comida e saúde… Hoje eu
também não sou infeliz e não me falta nada disso. Mas, a semelhança é de
matar e aliviar. Matar, por saber que 2014 vai entrar para o rol dos
meus anos sofridos. Aliviar, porque eu tenho plena consciência que o
sofrimento vem do mesmo lugar. Criança. Choque de realidade.
Amadurecimento forçado. E ah… Essas fases da vida, conforme a gente vai
envelhecendo, a gente vai aprendendo a dar valor. Daqui um tempo,
estaremos discutindo com um velho amigo “Lembra aquele ano em que eu
só levava na cabeça? Poxa, se eu soubesse como ele foi importante para
formar a pessoa que eu sou hoje…”.
E aí chegamos à minha pontinha de esperança.
Esse ano foi sofrido. Eu tive que encarar eu mesma de frente, encarar
as falhas da minha personalidade e da minha formação. E ah! É o meu
primeiro ano depois de formada. Só poderia ser. Você começa a pensar se
fez a escolha certa, se fez cagada com o resto da sua vida…
E é assim com todo mundo, não adianta se fazer de durão e
dizer que não, que não se arrepende, que tem certeza do futuro pela
frente.
Todo mundo pega o diploma com o mesmo peito estufado, achando que
enfrentou o mundo e é forte. Enfrentou as noites em claro estudando,
aquele professor babaca que reprovava todo mundo, a banca da monografia,
e no meu caso, até o monstro da prova OAB… E aí você começa a se achar
mais maduro, porque agora sua prioridade não é a mesma daqueles
calouros. Tudo que você consegue pensar é em arranjar um emprego, ganhar
dinheiro e naquele relacionamento sério que está para virar casamento.
Mas, aí vem o famoso primeiro ano depois de formado. E você leva na
cabeça. Porque, você não é maduro o suficiente, você ainda é novo
demais. E você ainda não é expert no seu curso, você não sabe de
praticamente nada. E você não vai conseguir metade do dinheiro que
queria e não vai poder fazer nada sobre isso. E você vai perceber que
ainda é a criança da história e que ainda tem os adultos, que sabem
mais, que mandam mais.
Quer dizer, esse texto não é sobre reclamações.
Eu vim aqui para falar que estou mais forte. Eu levei na cabeça esse
ano. Eu chorei um monte também. Mas, não morri, não. De novo. Estou mais
forte.
E tudo que eu espero é que eu tenha a mesma cabeça boa de quando eu
tinha meus 15/16 anos. Para que ao completar os 24 anos, saiba
aproveitar as lições que aprendi, na marra, aos 23.
E que esse ano vai fazer parte daquela coleção que a eu encho o peito para contar depois: “foi foda, mas eu me virei”.
E olha, eu levei na cabeça, eu apanhei, mas eu amadureci.
Você nunca amadurece o suficiente até que leve uma rasteira da vida. E
em vez de me lamentar que 2014, eu levei a rasteira. Comemoro, porque
em 2015, eu vou saber como não cair mais. Pelo menos, não na mesma
armadilha. Até o próximo ano em que a vida resolver me dar uma rasteira.
Mas, aí já é assunto para outro texto…
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